(ENEM PPL - 2023) Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa que admira e consterna. O que no admira, nem provavelmente consternar, se este outro livro no tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brs Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, no sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e no difcil antever o que poder sair desse conbio. Acresce que a gente grave achar no livro umas aparncias de puro romance, ao passo que a gente frvola no achar nele o seu romance usual; ei-lo a fica privado da estima dos graves e do amor dos frvolos, que so as duas colunas mximas da opinio. ASSIS, M. Memrias pstumas de Brs Cubas. Disponvel em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 ago. 2015. No fragmento transcrito da dedicatria Ao leitor, em Memrias pstumas de Brs Cubas, o autor serve-se da figura do narrador-defunto para
(ENEM PPL - 2023) A solido nas cidades grandes muito mais um sinal da precariedade do sentido da comunidade e da convivncia, mais um problema sociocultural do que de escolha individual. Certamente ela reflete a impossibilidade de retornar s florestas, como um dia fez Henry Thoreau. As florestas esto em extino, assim como, curiosamente, a ideia de humanidade. Resta fugir para a moderna caverna na selva de pedra sem querer reeditar lugares-comuns que a casa de cada um. A solido , assim, a categoria poltica que expressa a nostalgia de uma vivncia de si mesmo. Ela , por isso, a tentativa de preservar a subjetividade e a intimidade consigo mesmo que no tem lugar no contexto de relaes sociais transformadas em mercadorias baratas. A sociedade da antipoltica precisa tratar a solido como uma pena e um mal-estar quando no consegue olhar para a misria da vez: o fetiche da hiperconectividade, que ilude que no somos sozinhos. TIBURI, M. Disponvel em: http://revistacult.uol.com.br. Acesso em: 7 out. 2011. Marcia Tiburi trata de um tema relevante para a sociedade moderna: a convivncia interpessoal e a hiperconectividade vivenciada no ciberespao. O texto classifica-se, quanto ao gnero textual, como artigo de opinio, porque
(ENEM PPL - 2023) O Esporte Adaptado ou Paradesporto compreendido como prtica que oportuniza s pessoas com deficincia (PcD) o alcance de novos horizontes e perspectivas de vida por meio de vivncias motoras, psicolgicas e sociais diversificadas. Esse tipo de atividade consiste na possibilidade de prtica esportiva para PcD com modificaes relacionadas s regras da modalidade ou maneira como a modalidade se desenvolve. Adicionalmente, o esporte para PcD geralmente dividido por grupos de deficincia especficos nos quais cada grupo tem histria distinta, organizao, programa de competio e abordagem diferentes. Registram-se atualmente movimentos esportivos especficos para pessoas surdas, para deficientes fsicos, deficientes visuais e para pessoas com deficincia intelectual. Uma grande variedade de modalidades esportivas foram adaptadas para serem praticadas por pessoas com diferentes deficincias, assim como outras modalidades foram criadas exclusivamente para PcD. SIMIM, M. A. M. et al. O estado da arte das pesquisas em esportes coletivos para pessoas com deficincia: uma reviso sistemtica. Arquivos de Cincias do Esporte, n. 1, 2018 (adaptado). De acordo com esse texto, as prticas esportivas para PcD so caracterizadas por
(ENEM PPL - 2023) Leo do Norte Sou o corao do folclore nordestino Eu sou Mateus e Bastio do boi-bumb Sou o boneco do Mestre Vitalino Danando uma ciranda em Itamarac Eu sou um verso de Carlos Pena Filho Num frevo de Capiba Ao som da Orquestra Armorial Sou Capibaribe Num livro de Joo Cabral Sou mamulengo de So Bento do Una Vindo no baque solto de maracatu Eu sou um auto de Ariano Suassuna No meio da Feira de Caruaru Sou Frei Caneca do Pastoril do Faceta Levando a Flor da Lira Pra Nova Jerusalm Sou Luiz Gonzaga E eu sou mangue tambm Eu sou mameluco, sou de Casa Forte Sou de Pernambuco, sou o Leo do Norte LENINE; PINHEIRO, P. C. Leo do Norte. In: LENINE. Olho de peixe. So Paulo, 1993 (fragmento). A letra da cano expressa a diversidade de danas, sendo uma delas demonstrada no trecho:
(ENEM PPL - 2023) TEXTO I Voc vai ficar obsoleto Vivemos numa poca em que as coisas ficam obsoletas cada vez mais rpido. Produtos e servios desaparecem substitudos por outros, como tambm indstrias inteiras, devoradas por formas mais eficientes de trabalho. O comportamento das pessoas tambm est mudando; hoje aceitamos a inovao muito mais rpido. Voc sabia que a eletricidade demorou 46 anos para ser adotada por pelos menos 25% da populao norte-americana? Para o telefone foram necessrios 35 anos, 31 para o rdio, 26 para a televiso, 16 para o computador, 13 para o celular e apenas 7 para a internet. Dessa forma, tecnologia e empreendedorismo formam uma combinao explosiva que afeta os tradicionais setores econmicos, transformando modelos de negcios inteiros e acelerando o envelhecimento das coisas. Portanto, a chave para lidar com isso nos exige sair constantemente da zona de conforto. Deixar para trs o velho e abrir-se ao novo despir-se do medo do desconhecido. deixar-se dominar pelo entusiasmo, pela curiosidade e pela vontade de viver e fazer diferente. SENGER, A. Disponvel em: www.cloudcoaching.com.br. Acesso em: 20 nov. 2021 (adaptado). TEXTO II A rotina obsoleta Ser do tempo da mquina de escrever no me assusta mais. J objeto de museu. De colecionador. At seu sucessor, o computador de mesa, est com os dias contados. To mais prtico o laptop! Mas tambm existe o tablet, e quem sabe o que logo mais. surpreendente a velocidade com que meu cotidiano se transforma. Objetos essenciais at um tempinho atrs desapareceram. Inventa-se um dispositivo, todo mundo tem, e, dali a pouco, ele trocado por outro, mais avanado. A velocidade da mudana supera as eras anteriores. O prprio papel est perdendo a razo de ser. Documentos on-line so aceitos. Posso assinar um contrato por e-mail. Houve um tempo em que ter xerox de RG com firma reconhecida era um avano. Hoje Quem faz xerox? Imagine, eu sou do tempo em que na escola se faziam apostilas em xerox! Hoje, a gente recebe on-line. Parece estvel? Vai sumir. A vida se torna obsoleta a cada segundo. Mas o novo vai surgir. Isso torna a vida fascinante. A realidade deliciosamente instvel. CARRASCO, W. Disponvel em: https://veja.abril.com.br. Acesso em: 20 nov. 2021. Os textos I e II abordam a temtica da obsolescncia e tm em comum a
(ENEM PPL - 2023) At agora no pudemos saber se h ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo dagora assim os achvamos como os de l. guas so muitas; infinitas. Em tal maneira graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se- nela tudo; por causa das guas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que ser salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lanar. E que no houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegao de Calicute bastava. Quanto mais, disposio para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa f! CAMINHA, P. V. A carta. Disponvel em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 31 out. 2021. Esse texto um fragmento da carta de Pero Vaz de Caminha para o rei de Portugal, cuja importncia documental reside no fato de
(ENEM PPL - 2023) Nessa postagem dirigida aos seus seguidores de rede social, o autor utiliza uma linguagem
(ENEM PPL - 2023) O grande hall do hotel estava repleto. [...] Os criados passavam apressados, erguendo numa azfama os pratos de metal. Ao alto, os ventiladores faziam um rumor de colmeias. Senhoras e cavalheiros, perfeitamente felizes, as senhoras quase todas com largos bos de plumas brancas, chalravam e sorriam. Estvamos bem na bizarra sociedade de entalhe que o escol dos hotis. Alta, longa, comprida, com uma cintura de esmaltes translcidos e o ar empoado de uma ntima do general Lafayette, a escritora americana cuja admirao por Gonalves Dias chegara a faz-la estudar e propagar o Brasil, mastigava gravemente. Logo ao lado, um grupo de engenheiros, tambm americanos, bebia, com gargalhadas brutais e decerto inconvenientes, champanhe Mumm. [...] De vez em quando parava porta um novo hspede, hesitava, percorria com o olhar a extensa fila de mesas onde o debinage se acalorava. A um canto, Mlles. Peres, filhas de um rico argentino, yatch-recorderman nas horas vagas e vendedor de gado nas outras, perlavam risadinhas de flerte para o solitrio e divino Alberto Guerra, seguro dos seus bceps, dos seus brilhantes e qui dos seus versos. JOO DO RIO. Dentro da noite. So Paulo: Antiqua, 2002 (fragmento). Nessa descrio, o narrador traa um panorama sociocultural das primeiras dcadas do sculo XX. Sua perspectiva revela uma
(ENEM PPL - 2023) Para comear, ele nos olha na cara. No como a mquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos l, seu desprezvel pr-eletrnico, mostre o que voc sabe fazer. A mquina de escrever faz tudo que voc manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador diferente. Voc faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, seno ele no aceita. s vezes, quando a gente erra, ele faz bip. Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redao do jornal e volta e meia errava. E l vinha ele: Bip! Olha aqui, pessoal: ele errou. O burro errou!. Outra coisa: ele mais inteligente que voc. Esse negcio de que qualquer mquina s to inteligente quanto quem a usa no vale com ele. Est subentendido, nas suas relaes com o computador, que voc jamais aproveitar metade das coisas que ele tem para oferecer. A mquina de escrever podia ter recursos que voc nunca usaria, mas no tinha o mesmo ar de quem s aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a mquina, mesmo nos seus instantes de maior impacincia conosco, jamais faria bip em pblico. VERISSIMO, L. F. Pai no entende nada. Porto Alegre: LPM, 1990. Ao descrever sua relao com a mquina de escrever e o computador, o cronista adota uma perspectiva que
(ENEM PPL - 2023) Sob a perspectiva em que o artista deve trabalhar com as coisas que o tocam profundamente, a singularidade da obra Bastidores, produzida com objetos do cotidiano e de pouco valor material, mostra a boca, que expressa uma
(ENEM PPL - 2023) TEXTO I TEXTO II Produzidas com mais de 400 anos de diferena, as obras de Vik Muniz e Giuseppe Arcimboldo tm em comum a referncia a alimentos. Contudo, enquanto na obra de Arcimboldo os alimentos fazem parte de um jogo de representao, em Muniz, so empregados como matria-prima, sinalizando uma
(ENEM PPL - 2023) Basquiat representa uma das classes da sociedade americana s quais as barreiras sociais impedem, geralmente, o acesso arte. Os seus quadros, objetos pictricos e desenhos apresentam-se cheios de sinais, transcries de textos e elementos figurativos, encadeados em ritmos pictricos de uma preciso empolgante um misto de pintura grfica, smbolos populares americanos, grias de rua e aluses a obras de arte famosas. HONNEF, K. Arte contempornea. So Paulo: 1994 (adaptado). As caractersticas pictricas das obras de Basquiat apresentadas no texto aproximam-se das que encontramos no Brasil no
(ENEM PPL - 2023) Plantas superpoderosas A biloga Joanne Chory j tinha 60 anos e um diagnstico de Parkinson quando decidiu se dedicar a um projeto que capturasse gs carbnico da atmosfera coisa que as plantas fazem regularmente h 2,8 bilhes de anos. Para isso, a pesquisadora comeou a estudar algumas espcies e alter-las por meio de tcnicas de horticultura e manipulao gentica. A ideia que capturem mais carbono e o armazenem em suas razes. Uma dessas plantas, um tipo de mostarda, j cresce no delta do rio Mississipi. Caso funcione, a pesquisa tem potencial para diminuir em 46% o excesso de CO2 jogado anualmente na atmosfera. Provavelmente no estarei aqui para ver os resultados. Mas prefiro ser parte da soluo a me sentar e reclamar, diz Joanne. Que as superplantas criadas pela biloga vinguem e vicejem! CARNEIRO, F. Disponvel em: https://veja.abril.com.br. Acesso em: 23 out. 2021 (adaptado). Esse texto descreve a pesquisa inovadora realizada por uma biloga de 60 anos com diagnstico de Parkinson. O trecho que permite uma referncia indireta a essa condio fsica
(ENEM PPL - 2023) Proclamao do amor antigramtica D-me um beijo, ela me disse, E eu nunca mais voltei l. Quem fala d-me no ama, Quem ama fala me d D-me um beijo que correto, linguagem de doutor, Mas me d tem mais afeto, Beijo me-dado melhor. A gramtica foi feita Por um velho professor, Por isso to m receita Pra dizer coisas de amor. O mestre pune com zero Quem no diz amo-te. Aposto Que em casa ele mais sincero E diz pra mulher: te gosto Delrio dos olhos meus, Ests ficando antiptica. Pelo diabo ou por deus Manda s favas a gramtica. Fala, meu cheiro de rosa, Do jeito que estou pedindo: Hoje estou menas formosa, Com licena, vou se indo. Comete miles de erros, Mistura tu com voc, E eu proclamarei aos berros: Vs s o meu bem querer. LAGO, M. Disponvel em: www.mariolago.com.br. Acesso em: 30 out. 2021. Nesse poema, o eu lrico defende o uso de algumas estruturas consideradas inadequadas na norma-padro da lngua. Esse uso, exemplificado por me d e te gosto, legitimado
(ENEM PPL - 2023) Eu gosto muito de todas as festas de Diamantina; mas quando so na igreja do Rosrio, que quase pegada chcara de vov, eu gosto ainda mais. At parece que a festa nossa. E este ano foi mesmo. Foi sorteada para rainha do Rosrio uma ex-escrava de vov chamada Jlia e para rei um negro muito entusiasmado que eu no conhecia. Coitada de Jlia! Ela vinha h muito tempo ajuntando dinheiro para comprar um rancho. Gastou tudo na festa e ainda ficou devendo. Agora que eu vi comofica caro para os pobres dos negros serem reis por um dia. Jlia com o vestido e a coroa j gastou muito. Alm disso, teve de dar um jantar para a corte toda. A rainha tem uma caudatria que vai atrs segurando na capa que tem uma grande cauda. Esta tambm negra da chcara e ajudou no jantar. Eu acho graa no entusiasmo dos pretos neste reinado to curto. Ningum rejeita o cargo, mesmo sabendo a despesa que d! MORLEY, H. Minha vida de menina. So Paulo: Cia. das Letras, 1998. O trecho apresenta marcas textuais que justificam o emprego da linguagem coloquial. O tom informal do discurso se deve ao fato de que se trata de um(a)